Com mais de um mês de quarentena, continuamos dependentes do mundo virtual para analisar, discutir e esclarecer pontos altamente controversos em propostas legislativas que mexem frontalmente com a vida do atleta de futebol profissional no Brasil.
Estamos surpresos com as recentes votações virtuais, outras na iminência de ocorrerem nas Casas Legislativas, todas sem uma discussão aprofundada da matéria.
Sob o pretexto de criar legislação que autorize o Clube Empresa no futebol brasileiro ou mesmo sob o obscuro manto do momento de pandemia pelo qual estamos passando, assistimos o acréscimo de cláusulas em projetos que se não são “jabutis”, em certa medida cumprem este papel.
O que deseja(m) o(s) autor(es) desses malsinados projetos? que o atleta financie via perda de direitos a viabilidade do clube empresa no Brasil? a pandemia tem que ser suportada exclusivamente pela renúncia das garantias contratuais fundamentais apenas pela parte dos trabalhadores? Não desejamos o futebol como ele se encontra, mas temos que admitir que esforços de governos passados não surtiram efeito porque o mecanismo de controle e fiscalização não cumpriu o seu papel.
Agora, mais uma vez, o nosso legislativo, de forma acachapante está prestes a pautar virtualmente a votação de PL's que tem como pano de fundo a pretensão de resolver, como uma panaceia, todas as mazelas do futebol, às custas, mais uma vez do Estado Brasileiro e pior, às custas da ponta mais frágil do sistema: o atleta de futebol.
Nos assusta o teor, a celeridade, o açodamento e a inexistência de debates acerca da matéria.
No Brasil o que gera notícia são as grandes estrelas, todavia, o que lhes dá sustentação são os 94% de atletas que ganham até 2 salários mínimos por mês e que trabalham sob algum “dispositivo legal” por menos de quatro meses ao ano.
As propostas de lei em pauta não resolverão o problema do futebol brasileiro, ao revés, o agravará na medida em quê irá subtrair o mínimo para que um jovem se sinta motivado para a pratica do futebol, visando carreira profissional. Estamos na iminência de um retrocesso sem paralelos e chamamos atenção da mídia especializada para que neste momento de absoluta clausura, os atletas profissionais de futebol tenham voz para dizer para os nossos congressistas que como está não está bom, insistir nisto e a coisa ficará bem pior.
Temos abaixos-assinados com centenas de signatários – atletas profissionais de futebol – a serem apresentados aos parlamentares mas, diante da pressa observada no "rito da violência" aos direitos, cumpre este manifesto a fim deixar registrado que essas PL's não conseguem agradar sequer um dos atores que movem a maior paixão nacional. Estamos preocupados, tristes e desprotegidos por um sistema que insiste em ouvir apenas um lado e que pretende, ainda que com as melhores intenções, editar mais um dispositivo legal, que como tantos outros nos trouxe até aqui: ao caos.